quinta-feira, 6 de junho de 2013

Expectativas

Por S. G.
Nível Intermediário II

Para os homens na rua, eu sou o prêmio alto, magro, loiro, e de olhos azuis para ser ganho pelo pretendente que mais vocalmente chama a minha atenção. Eles sussurram "liiiinda" ou "bee-yoo-chee-ful", quando eu passo, ou tocam meu cabelo, agarram meu braço.

Para a minha mãe hospedeira, eu sou sua princesa, sua boneca americana, essa coisinha exótica que ela mostra aos seus amigos e família que visitam, arrulhando, "não é ela bonita?" enquanto acaricia meu cabelo "loiro" (sou basicamente morena). Eu também sou dinheiro, e a próxima vez que minha mãe me envia um pacote dos Estados Unidos, poderia incluir perfume ou maquiagem? (porque essas coisas são caras no Brasil, é claro).

Para os alunos nas minhas aulas da universidade aqui, eu sou o melhor amigo de todos. Eu também sou rico, porque eu posso dar ao luxo de viajar aqui, e sou legal, porque eu moro na Califórnia, e eu vou ser rico, porque eu faço medicina.

E para o resto da sociedade que experimenta meu português imperfeito e minhas traduções desleixadas, eu sou burro, lento e inocente.
Quem sou eu, realmente?


Bem, isso importa?


2 comentários:

  1. Parece uma reflexão interessante , mas um pouco desencantada. Acho bom fazer este análise, mas acho também que a grande maioria das relações entre as pessoas são instrumentais. O problema é quando só são instrumentais, como no caso da escravidão em A. Latina.
    Qualquer caso, vou-lhe recomendar o melhor livro de autoajuda que eu conheço, não anglo-americano, senão judeu-cristão: o Eclesiastes, sobre tudo onde diz Vaidade, tudo é vaidade. Pode não curar, mas pelo menos vai sentir algum conforto.
    W.P.

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  2. Também achei engraçado/frustrante como homens especialmente olham por tempos durados sem vergonha nenhuma. De verdade, me faz sentir desrespeteitada, de alguma maneira. Como se fosse o caso que ele me olhando assim significa que ele não imagina que meus sentimentos valem nessa situação. Fica difíciel descrever, mas não gosto mesmo. Eu acho essa a parte mais frustrante das cantadas e tudo: que eu sou limitada na minha abilidade olhar nas pessoas que eu passo na rua. Se for homem, ele vai pensar alguma coisa, possivelmente dizer alguma coisa, e me faz sentir, novamente, que não tenho o direito olhar nas pessoas nos olhos, caso elas sejam homens e eu fique com alguém pensando que EU estou pensando neles de um jeito que não estou. Frustrante mesmo.
    L.P

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