segunda-feira, 29 de julho de 2013

Chapada Diamantina com os brasileiros : o improviso total !

Por Mathieu Molitor
Nível Intermediário I

O que poderia ser melhor, para um estrangeiro morando em Salvador, do que ter a possibilidade de ir para a Chapada Diamantina acompanhado por brasileiros? Nada! Então, fiquei muito feliz quando uma colega de trabalho da UFBA me perguntou se eu queria fazer caminhadas pela Chapada Diamantina por uma semana com barraca e tudo! Aceitei imediatamente, e os preparativos foram feitos rapidamente (mas seriosamente), numa alegria e excitação que me acompanharam até o dia J, onde a minha colega e eu devíamos nos encontrar na rodoviária de Salvador para pegar o ônibus que iria nos levar para a Chapada Diamantina.


         A viajem foi longa (9 horas), mas a diversidade e a beleza das paisagens naturais não paravam de me encantar, especialmente os cactos enormes que, até lá, só vi em alguns filmes de Cowboy. Não fiquei infeliz, porém, de deixar o conforto espartano do ônibus por nosso destino, uma cidade turística que se chama Andaraí, no meio da Chapada Diamantina. Lá, dois quartos de uma pousada estavam esperando a nossa chegada sob o olhar benevolente de uma zeladora bem simpática. No meu quarto, tinha um aviso na parede que dava informações úteis sobre a pousada. Como sou muito curioso, li o aviso completamente. Havia uma frase que não entendi :

não jogue papel no vaso sanitário.

Esta frase estava em inglês e primeiramente achei que a tradução foi ruim porque, se não pode jogar o papel higiênico na privada, o que é que deve fazer com o papel sujo? Então, eu fui procurar a zeladora para conversar sobre este problema. Fiquei muito embaraçado de perguntar isso, mas fiz questão de saber! A zeladora me explicou, para minha surpresa, que no Brasil, os esgotos realmente não funcionam bem contrariamente a Europa e que a gente deve utilizar a lixeira ao lado da privada. Foi meu segundo mês no Brasil, mas só aprendi isso neste momento...
         O dia seguinte começou com um café da manhã muito gostoso (frutas, confeitaras, doces, sucos, ovos, etc.) em companhia da minha colega e da zeladora, a qual nos contou a sua vida toda. Infelizmente, não entendi nada porque o meu português era perto de zero, o que deixou a minha atenção vagar na sala, e especialmente sobre duas moscas que estavam namoriscando em cima de um aparador, perto de nós.  Ah amor!
     
    As coisas sérias começaram imediatamente depois do almoço, quando fomos encontrar os amigos da minha colega no início da trilha : três casais, entre 27 e 33 anos, que realmente encarnavam o Brasil. Todos tinham a pele negra e usavam camisas amarelas idênticas, da mesma cor amarela do que a bandeira brasileira (as quais tinham feitos especialmente para esta ocasião). Os rapazes eram musculosos, altos e charmosos ; se eu fosse uma mulher, eu provavelmente  teria sido atraída por eles. As garotas eram lindas, estavam sorrindo muito e tinham corpos “bem brasileiros” (mulheres de verdade!). Quando os vi, pensei que eles seriam perfeitos para uma propaganda sobre o Brasil, ou Skol. Infelizmente, ninguém falava inglês (com exceção da minha colega), mas eles eram tão simpáticos que não foi um problema, e quase imediatamente, me senti aceitado no grupo.

        Pouco depois, começamos a andar com as mochilas bem cheias em direção à montanha a mais próxima. A atmosfera era muito alegre e fiquei muito contente de participar desta aventura.     Ficava curioso para saber se fazer caminhadas no Brasil seria a mesma coisa que na Europa, e, na verdade, as diferenças não tardaram a aparecer. Como fazia muito calor, estávamos  bebendo muito, mas em vez de beber água, os meus amigos novos estavam bebendo vinho! Com este calor! Não acreditei com meus próprios olhos... Mas Ok, pensei, isso vai ajudar a fofocar um pouco, o que é sempre engraçado. 
Uma outra diferença, que reparei, foi a maneira cuja os homens ajudavam (ou não) as mulheres cada vez que devíamos superar um obstáculo. Na Europa, é natural para um homem ajudar uma mulher e oferecer a sua mão como apoio por ajudar. Mas parece que este conceito seja totalmente desconhecido pelos homens brasileiros. Isso me dava muito trabalho (de ajudar), mas na verdade, eu adorei receber muitos sorrisos radiantes de agradecimento tão charmosos!
    
     A caminho, eu carregava um saco de dormir azul na mochila que chamou a atenção dos meus companheiros; eles diziam : “cuidado com este saco de dormir, ele não está bem preso à sua mochila. Ele vai cair”. Tsss tsss tsss, pensei, só tenho que verificar de vez em quando que ele esteja  lá, e tudo vai ser ok.  Que petulância! Eu não tinha antecipado que a vegetação iria ser tão densa e que muitos ramos pudessem “agarrar” o saco de dormir. Em menos de uma hora após do início, já o perdi. Droga! A estadia iria ser muito menos confortável.   
         Apesar disso, tudo correu pelo melhor. Fez calor, a vista era magnífica e todo mundo estava brincando alegremente. Porém, alguma coisa era errada. Tive que falar com a minha colega. Segue-se, de memória, o que lhe disse em voz baixa :

-        Você reparou que já passamos por este lugar, perguntei.
-        Sim, reparei.
-        Quem é o chefe do nosso grupo? Tem alguém que sabe o caminho certo? 
-        Não sei, mas eles tinham falado que já estiveram aqui no ano passado, e que o caminho é bem visível.
-        É verdade? Porque obviamente não tem nenhum caminho ao redor. Ao menos, eles têm uma ideia geral da direção?
-        Acho que não.

Ok, pensei, estamos perdidos. Mas não faz mal, eles só precisam encontrar o caminho, de preferência em breve, porque as garrafas de água (e vinho) estavam quase vazias, e fazia sempre mais e mais calor.
         Infelizmente, nunca encontramos o caminho certo, e a trajetória do nosso grupo era mais caótica que nunca. Confesso que não era mais convencido pelos sorrisos, os “tudo bem?”, nem por todas as mãos fechadas com os polegares erguidos (isso é tão brasileiro!). Tive que falar outra vez com minha colega.

-        Devemos regressar, lhe disse, não temos mais bebida e os cursos de água estão todos secos.
-        É claro! Me desculpe, eu sinceramente não sabia que eles eram tão ruins... Vou falar com eles. Você se lembra do caminho para voltar à pousada?
-        Sim. Ao menos a direção geral. Não é difícil. Mas tenho que voltar agora e depressa!

Rapidamente, o resto do grupo concordou para regressar, e a minha colega e eu estávamos agora à frente do grupo. Ambos, estávamos andando muito mais rápido do que anteriormente porque não queríamos perder mais tempo; não tínhamos mais bebidas e devíamos ainda andar, ao menos, dois ou três horas sob um sol escaldante, antes de alcançar Andaraí. Infelizmente, o resto do grupo não conseguia seguir, e uma das mulheres começava a se sentir mal por causa do calor e da desidratação. Então, a minha colega me disse :

-        não podemos fazer nada por eles. Acho que o melhor seria continuar e alcançar Andaraí o mais rápido possível, afim, se necessário, de procurar ajuda.

Ela teve razão, é claro. Então, nos apressamos como nunca, deixando o resto do grupo atrás.       Alcançamos Andaraí por volta de 15:30 horas, em menos de duas horas. Estava varado de cede, por isso,  tínhamos pedido um copo de água à primeira pessoa que vimos ao chegar. Depois, fomos para uma lanchonete que ficava perto do estacionamento onde estavam os carros dos outros, a fim de lhes esperar lá. Eles necessariamente deviam passar por aqui. Então, tínhamos esperado, ainda e ainda, 16 horas, 17 horas, 18 horas... Estávamos extremamente preocupados, quando, por volta de 19:30, lhes vimos ao longe. Eles estavam andando devagorosamente em nossa direção. Pareciam cansados, mas também extremamente felizes de nos ver. Que alívio!
         Assim foi o meu primeiro dia Na Chapada Diamantina. Devo dizer que, apesar de tudo isso, eu realmente adorei (e ainda adoro) os meus companheiros novos. Eles têm um calor humano característico do povo brasileiro que aquece o coração, e uma alegria que dá o sorriso. Um “detalhe” que ilustra isso, é quando eles finalmente conseguiram chegar à cidade o primeiro dia, e que eles nos viram (ver acima). A primeira coisa que um deles me disse, apesar de tudo que eles tinham sofrido, foi :

         encontramos o seu saco de dormir azul,    
 


falou com um sorriso radiante e estendendo o braço na minha direção, segurando o meu saco de dormir. 


Um comentário:

  1. Mathieu, cujo nome a propósito me sempre lembra do filme La Boum com Sophie Marceau dos anos oitentas, escreve como um escritor. Ele já indicou isso no outro texto da "Rotina" e ele sem duvida sabe expressar bem. Embora os textos são compridos eu li com prazer e com inveja, que eu aínda não consigo expressar tão bem no Português. ;-)
    Especialmente esse relatório sobre o excursão para a Chapada Diamantina me encantou muito. Minhas experiencias com brasileiros são similares, que apesar de estar em situações difficeis, eles não param de ficar com bom humor e sempre preocupam com todo mundo. Além disso, eu também meu perguntava já muitos vezes como eles consegem beber whisky e cachaça na praia com 40 grau na sombra, tal como aqui descrito com vinho na trilha. A diferença provavelmente é que na praia não se move muito.
    D.W.

    ResponderExcluir