Por Mathieu Molitor
Nível Intermediário I
O que poderia ser melhor, para um estrangeiro morando em Salvador, do que ter a
possibilidade de ir para a Chapada Diamantina acompanhado por brasileiros? Nada! Então, fiquei muito feliz
quando uma colega de trabalho da UFBA me perguntou se eu queria fazer caminhadas pela Chapada Diamantina por
uma semana com barraca e tudo! Aceitei imediatamente, e os preparativos foram
feitos rapidamente (mas seriosamente), numa alegria e excitação que me
acompanharam até o dia J, onde a minha colega e eu devíamos nos encontrar na
rodoviária de Salvador para pegar o ônibus que iria nos levar para a Chapada
Diamantina.
A
viajem foi longa (9 horas), mas a diversidade e
a beleza das paisagens naturais não paravam de me encantar, especialmente os
cactos enormes que, até lá, só vi em alguns filmes de Cowboy. Não fiquei
infeliz, porém, de deixar o conforto espartano do ônibus por nosso destino, uma cidade turística que se chama
Andaraí, no meio da Chapada Diamantina. Lá, dois quartos de uma pousada estavam
esperando a nossa chegada sob o olhar benevolente de uma zeladora bem
simpática. No meu quarto, tinha um aviso na parede que dava informações úteis
sobre a pousada. Como sou muito curioso, li o aviso completamente. Havia uma
frase que não entendi :
não jogue papel no
vaso sanitário.
Esta frase estava em inglês e primeiramente achei que a tradução
foi ruim porque, se não pode jogar o papel higiênico na privada, o que é que
deve fazer com o papel sujo? Então, eu fui procurar a zeladora para conversar
sobre este problema. Fiquei muito embaraçado de perguntar isso, mas fiz questão
de saber! A zeladora me explicou, para minha surpresa, que no Brasil, os
esgotos realmente não funcionam bem contrariamente a Europa e que a gente deve
utilizar a lixeira ao lado da privada. Foi meu segundo mês no Brasil, mas só
aprendi isso neste
momento...
O
dia seguinte começou com um café da manhã muito gostoso (frutas, confeitaras,
doces, sucos, ovos, etc.) em companhia da minha colega e da zeladora, a qual
nos contou a sua vida toda. Infelizmente, não entendi nada porque o meu
português era perto de zero, o que deixou a minha atenção vagar na sala, e especialmente sobre duas moscas que
estavam namoriscando em cima de um aparador, perto de nós. Ah amor!
Uma outra diferença, que reparei,
foi a maneira cuja os homens ajudavam (ou não) as mulheres cada vez que
devíamos superar um obstáculo. Na Europa, é
natural para um homem ajudar uma mulher e oferecer a sua mão como apoio por ajudar. Mas parece que este conceito seja
totalmente desconhecido pelos homens brasileiros. Isso me dava muito trabalho
(de ajudar), mas na verdade, eu adorei receber muitos sorrisos radiantes de
agradecimento tão charmosos!
Apesar
disso, tudo correu pelo melhor. Fez calor, a vista era magnífica e todo mundo
estava brincando alegremente. Porém, alguma coisa era errada. Tive que falar com a minha colega. Segue-se, de memória, o que lhe disse
em voz baixa :
-
Você reparou que já passamos por este lugar,
perguntei.
-
Sim, reparei.
-
Quem é o chefe do nosso grupo? Tem alguém que
sabe o caminho certo?
-
Não sei, mas eles tinham falado que já estiveram
aqui no ano passado, e que o caminho é bem visível.
-
É verdade? Porque obviamente não tem nenhum
caminho ao redor. Ao menos, eles têm uma ideia geral da direção?
-
Acho que não.
Ok, pensei, estamos perdidos. Mas
não faz mal, eles só precisam encontrar o caminho, de preferência em breve, porque as garrafas de água (e vinho) estavam quase vazias, e fazia sempre mais e mais
calor.
Infelizmente,
nunca encontramos o caminho certo, e a trajetória do nosso grupo era mais
caótica que nunca. Confesso que não era mais convencido pelos sorrisos, os
“tudo bem?”, nem por todas as mãos fechadas com os polegares erguidos (isso é tão brasileiro!). Tive
que falar outra vez com minha colega.
-
Devemos regressar, lhe disse, não temos mais
bebida e os cursos de água estão todos secos.
-
É claro! Me desculpe, eu sinceramente não sabia
que eles eram tão ruins... Vou falar com eles.
Você se lembra do caminho para voltar à pousada?
-
Sim. Ao menos a direção geral. Não é difícil.
Mas tenho que voltar agora e depressa!
Rapidamente, o resto do grupo
concordou para regressar, e a minha colega e eu estávamos agora à frente do
grupo. Ambos, estávamos andando muito mais rápido do que anteriormente porque
não queríamos perder mais tempo; não tínhamos mais bebidas e devíamos ainda
andar, ao menos, dois ou três horas sob um sol escaldante, antes de alcançar
Andaraí. Infelizmente, o resto do grupo não conseguia seguir, e uma das
mulheres começava a se sentir mal por causa do calor e da desidratação. Então,
a minha colega me disse :
-
não podemos fazer nada por eles. Acho que o
melhor seria continuar e alcançar Andaraí o mais rápido possível, afim, se
necessário, de procurar ajuda.
Ela teve razão, é claro. Então,
nos apressamos como nunca, deixando o resto do grupo atrás. Alcançamos Andaraí por volta de 15:30
horas, em menos de duas horas. Estava varado de cede, por isso, tínhamos pedido um copo de água à primeira
pessoa que vimos ao chegar. Depois, fomos para uma lanchonete que ficava perto do estacionamento onde estavam os carros
dos outros, a fim de lhes esperar lá. Eles necessariamente deviam passar por
aqui. Então, tínhamos esperado, ainda e ainda, 16 horas, 17 horas, 18 horas...
Estávamos extremamente preocupados, quando, por volta de 19:30, lhes vimos ao
longe. Eles estavam andando devagorosamente em nossa
direção. Pareciam cansados, mas também
extremamente felizes de nos ver. Que alívio!
Assim
foi o meu primeiro dia Na Chapada Diamantina. Devo dizer que, apesar de tudo
isso, eu realmente adorei (e ainda adoro) os meus companheiros novos. Eles têm
um calor humano característico do povo brasileiro que aquece o coração, e uma
alegria que dá o sorriso. Um “detalhe” que ilustra isso, é quando eles
finalmente conseguiram chegar à cidade o primeiro dia, e que eles nos viram
(ver acima). A primeira coisa que um deles me disse, apesar de tudo que eles tinham sofrido,
foi :
encontramos o seu saco de dormir
azul,
falou com um sorriso radiante e
estendendo o braço na minha direção, segurando o meu saco de dormir.
Mathieu, cujo nome a propósito me sempre lembra do filme La Boum com Sophie Marceau dos anos oitentas, escreve como um escritor. Ele já indicou isso no outro texto da "Rotina" e ele sem duvida sabe expressar bem. Embora os textos são compridos eu li com prazer e com inveja, que eu aínda não consigo expressar tão bem no Português. ;-)
ResponderExcluirEspecialmente esse relatório sobre o excursão para a Chapada Diamantina me encantou muito. Minhas experiencias com brasileiros são similares, que apesar de estar em situações difficeis, eles não param de ficar com bom humor e sempre preocupam com todo mundo. Além disso, eu também meu perguntava já muitos vezes como eles consegem beber whisky e cachaça na praia com 40 grau na sombra, tal como aqui descrito com vinho na trilha. A diferença provavelmente é que na praia não se move muito.
D.W.